Durante muito tempo pensou-se Maquiavel de uma forma errada, como um autor que prega o despotismo e uma política imoral em que vale de tudo para atingir determinado fim (a famosa “Os fins justificam os meios”). Tentarei elucidar essa questão através de dois conceitos chaves da análise maquiaveliana ( não maquiavélica): Virtú e Fortuna.
Esses dois conceitos inauguram um novo momento da filosofia política, a partir deles começa-se a pensar política de forma política, ao contrário de antes que se abordava o tema a partir de análises religiosas ou morais.
Fortuna diz respeito às circunstâncias, ao tempo presente e as necessidades do mesmo, a sorte da pessoa. É a ordem das coisas em todas as dimensões da realidade que influenciam a política, é externa ao homem e desafia suas capacidades.
Virtú ( traduzindo do Latim para o Português: Virtude, porém é melhor usar Virtú, para não confundir com a virtude moral) é justamente a capacidade do indivíduo (político) de controle das ocasiões e acontecimentos, ou seja, da fortuna. O político com grande Virtú vê justamente na Fortuna a possibilidade da construção de uma estratégia para controlá-la e alcançar determinada finalidade, agindo frente a uma determinada circunstancia, percebendo seus limites e explorando as possibilidades perante os mesmos. A Virtú está sempre analisando a Fortuna e, portanto, não existe em abstrato, não existe uma fórmula, ela varia de acordo com a situação.
Talvez de uma má interpretação desses conceitos que tem origem a visão maquiavélica de Maquiavel. Pois, os fins justificam os meios dentro de uma determinada situação política que sofre influência de outras dimensões como a social, a econômica e a moral e cabe ao político com as suas capacidades de análise e de estratégia achar um meio perante essa conjuntura para realização de um determinado fim.
Na obre O Príncipe, cap. 25, em que Maquiavel explica esses conceitos, ele fala sobre a crença que há em sua época em um determinismo divino, o desenvolvimento dos mesmos se opõe a esse determinismo como vimos, porém devemos cuidar pois assim como a Fortuna não é determinada e fatalista, mas sim muda de acordo com a conjuntura, a Virtú não o simples livre arbítrio, mas sim a escolha certa na hora certa.
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
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